Concelho - História

Lenda da Princesa Peralta

«… e alcançada Vénus sua inimiga, nela [Princesa Peralta] executou maiores crueldades, como autora e causa do todo seu furor. E a converteu em ribeiro de muito caudal, e de muita água (…) dizendo: assim quero que seja castigada tua soberba e altiveza, e formusura para sempre, e percas o nome de alta, e te fique só de Pera (…).»

 

As origens de Castanheira de Pera remontam, certamente, a muitos séculos antes do primeiro documento histórico comprovativo. O primeiro documento conhecido, referindo nomes de povoações do actual concelho, tem a data de 1467 - é uma sentença de Afonso V sobre os baldios do Coentral.

Porém, existe uma lenda que nos fala da princesa Peralta, filha de el-rei Arunce. Esta lenda foi escrita, em 1629, por Miguel Leitão de Andrada. Segundo a lenda, em 72 a.C., fugida de Colimbria, em consequência da invasão do reino, Peralta refugiou-se com seu séquito no Castelo de Arouce (Lousã). Por influência de Sertório (guerreiro romano que por ela se apaixonou), decidiu ir para Sertago...

 

Na opulenta Colimbriga reinava Arunce. Da deslumbrante beleza da princesa Peralta, de causar a cobiça dos deuses do Olimpo, andavam na terra príncipes e fidalgos de corações quebrantados de amores não correspondidos. Sitiada a cidade por um exército inimigo, mandara El-Rei que a sua formosa filha encontrasse refúgio nos contrafortes das serranias, nas margens do rio Arouce (Lousã), num pequeno castelo que ali mandara construir para guardar o seu tesouro. Ansiosa naquele retiro, sem notícias da frente de batalha, saiu a Princesa encoberta na penumbra da cerrada floresta, atravessando penhascos e desfiladeiros, em direção à distante Sertago (Sertã).

Seria castigo, talvez por malvadez de incontidos ciúmes e inveja. Quedou-se a bela princesa nos encantos do feitiço tecido nas tramas e urdiduras de Vénus. Disperso o seu séquito, transformado em pedras dos montes e vales, Peralta sumir-se-ia nos prantos das águas da ribeira, que levando no seu nome «Pera», perderia na ira da deusa a altivez da distinta pose da realeza. Conta ainda a lenda, das belas sardas no rosto da Princesa, que “muitas graças lhe acrescentavam”, por delas escarnecer a deusa, as pôs nos peixes “que nesta ribeira se criam, [e se] chamam trutas”. Deste “fim triste e desventurado, daquela tão formosa e excelente Princesa Peralta, causado por pura inveja”, escreveu Miguel Leitão de Andrade, na sua obra «Miscellanea» (1629), a versão mais antiga da lenda.

Exaurida na perigosa e extenuante travessia da serra, pesando o esforço na já avançada idade, adianta a lenda ter aqui falecido a fiel aia, de nome Antígona. Num raio furioso fez Vénus estilhaçar a pedra tumular. Apagado o epitáfio «Antígona de Peralta aqui foi da vida falta», restou na vaga memória do lugar, na oralidade das estórias de um tempo sem história, os enigmáticos dizeres «Antig…a de Pera…».

«E dizem mais, que algumas vezes se ouve ainda hoje gemer, e suspirar esta Peralta, indo assim desfeita em águas ao entrar no rio Zacor, ou Ozecaro (agora este nosso Zêzere)».

Pelos trilhos da «Rota Terras de Peralta» (PR4 CRP), saindo da capela antiga de Pera, na levada do regadio que conduz ao moinho, alcançamos as águas límpidas do verdejante retiro do Poço dos Amaros.   ver folheto informativo

        
 
                                                               

 


Poços da Neve

Terá sido durante o domínio filipino que se difundiu entre a realeza o consumo de gelo, em sorvetes ou refrescos. Seria dos covões da Serra da Estrela a primeira proveniência das “neves”. Imaginemos o extenuante esforço, tanto para os homens como para os animais, empregue no transporte pelos tortuosos caminhos da montanha e as inevitáveis perdas do degelo. Mais próximo, a cinco dias de distância, os nevões nas serranias do Coentral-Lousã, ao cimo do Cabeço do Pereiro, permitiam uma melhor rentabilidade do negócio, ainda que para o armazenamento e conservação do gelo fosse necessário a construção dos “poços da neve”. Seguir-se-ia a edificação e ampliação da Real Fábrica do Gelo, na serra de Montejunto. Três diferentes métodos de fabrico de gelo provenientes de três locais distintos: na Estrela e no Coentral, através da recolha e compactação da neve, diferindo a edificação de poços dos covões naturais, e, em Montejunto, por meio de um sofisticado sistema hidráulico de congelamento natural, em que a água retirada de um grande poço era distribuída pelas quatro dezenas de tanques rasos, formando durante a noite mantos de gelo, depois retirados e compactado num grande silo ou poço.

Não se sabe ao certo quando foram construídos os poços da neve no Coentral. O alvará de D. José remonta a sua existência a pelo menos 1757, fazendo prevalecer junto do Marquês de Pombal os privilégios concedidos a Julião Pereira de Castro para o exercício do ofício de neveiro, mediante a obrigação de fornecer a neve à casa real. O gelo era transportado em carroças até ao porto da Barquinha, descendo pelo Tejo até ao Terreiro do Paço. Refrigerado o requinte dos paladares da corte, o gelo tornar-se-ia luxuosa moda nas “casas das neves” e nos novos botequins de Lisboa.

Do fabrico do gelo no Santo António da Neve ficou a memória nos contos da tradição oral compilados pelo saudoso Herlander Machado no livro «Coentral – Terra de Encantos» (1991):

«Os poços da neve tinham uma profundidade superior a uma dezena de metros. Exibem, ainda, o aspecto tosco das suas construções circulares e octogonais, cobertas por cúpulas abobadas – tudo edificado com pedra negra, da região, e uma só porta, estreita, constituía o acesso. Utilizando escadas de mão, os homens desciam ao fundo desses poços e, à medida que neles ia sendo despejada a neve, calcavam-na com pesados maços de madeira – como os calceteiros de hoje. Empedernida, isolada entre os paredões alisados pelo estuque, coberta com palha, a neve conservava-se até ao Verão, sem que uma réstia de sol lhe pudesse chegar. Eram as mulheres e os garotos das aldeias vizinhas contratados, à jorna, para acarretar cestas com neve para os poços (…). Quando chegava o Verão, a neve era cortada em pedaços e vinha, em grandes blocos, para Lisboa, envolvida em palha, fetos, serapilheira, ou, até metida em caixotes.»

 


 

Indústria de Lanifícios

Há muitos séculos atrás, os castanheirenses resolveram aproveitar os recursos naturais locais e desenvolver as artes e os ofícios que sabiam. Havia pastagens, rebanhos, lãs, boas águas, gente que sabia tosquiar, fiar, cardar, tecer, pisoar e tingir. Assim, nasceu a arte dos lanifícios em Castanheira de Pera.
Predominou uma produção artesanal até 1860, altura em que foi criada a primeira fábrica.
José Antão fundou a primeira fábrica do concelho, na Abelheira de Baixo, movida por roda hidráulica. JFábrica da Retorta [clique para ampliar]osé Antão era um comerciante ambulante da Gestosa Fundeira, que comprava os seus artigos no Porto e vendia-os ou trocava-os por lã no Alentejo. De espírito arguto, resolveu manufacturar a sua lã, fundando, em 1860, uma fábrica.
Muitas fábricas se seguiram: Retorta, Várzea, Safrujo, Esconhais, Rapos, Pereiros, Torgal, Bolo, Foz, entre outras.
Um grande amor à terra, as naturais tradições do fabrico de lanifícios e a fonte de energia natural, que era a Ribeira de Pera, favoreceram este surto de desenvolvimento.
A população não dependia, agora, apenas de uma agricultura de subsistência, das migrações para o Ribatejo e Alentejo, da emigração para o Brasil ou dos seus rebanhos, pisões ou teares caseiros; havia as fábricas.
A implantação industrial foi o motor de desenvolvimento de Castanheira de Pera, que chegou a ser o terceiro centro nacional da indústria de lanifícios.

 

 
                                                 

A manufatura da lã e os pisões

Solos pedregosos, predominantemente xistosos, as pequenas leiras férteis, duramente amanhadas entre botaréus e socalcos, eram de curto sustento para o desenvolvimento da agricultura familiar. Na base da economia agrossilvopastoril, as numerosas cabeças dos rebanhos lanígeros cobrem os pastos nas serras, fornecendo a matéria-prima para a manufatura dos lanifícios na tecelagem dos tradicionais buréis, surrobecos e mantas.

O primeiro registo documental que atesta a importância da pastorícia no sustento dos povoados que habitam as margens da Ribeira de Pera é uma sentença judicial de 1467, no apelo feito a Afonso V por cinco casais de pastores deste lado da serra, na contenda que os opunha aos juízes da Lousã sobre o uso das pastagens nos terrenos baldios para lá dos termos do concelho.

No cumprimento do Regimento da Fábrica de Panos de 1573, promulgado por D. Sebastião, a Câmara de Pedrógão Grande procede, no ano seguinte, à nomeação dos juízes e vedores encarregues de examinar os bons ofícios dos cardadores, tecedeiras, tecelões e pisoeiros na manufatura das lãs e do linho.

Em 1839, na resposta ao inquérito da Câmara dos Deputados dedicado ao exame da “indústria agrícola, fabril e comercial”, a Câmara de Pedrógão Grande não procedeu à nomeação de um “representante da classe fabril, por não haver no concelho”, mais precisando os moldes artesanais da fabricação de panos de linho e de lã.

 

«Neste concelho não há fábrica como tal verdadeiramente denominada e conhecida, há sim oitenta e dois teares de pano de linho, noventa e oito de lãs e vinte pisões para esta (…).

As matérias-primas d’esta há linho do importado no Reino, e lãa vinda do Alentejo, Campo de Coimbra e outras terras. Em cada hum dos teares se ocupa huma molher, e nos pisões hum ou dois homens, esto há quando trabalhão, pois que nem sempre tem a fazer. Nos teares de linho se tecerão mil arrobas deste, nos de lãa sete mil dozentos e cinquente destas; o linho todo se consome no concelho, e não chega a lãa, della se consumirá huma quarta parte, as outras restantes se vendem no mercado mensal do concelho e outros do Reino, os preços tanto do linho como da lãa são mui variáveis.» Câmara Municipal de Pedrógão Grande, 1839

 

Dos centros laneiros da Covilhã e Portalegre ao impulso industrial da moderna fabricação de tecidos em Lisboa, Porto, Alenquer, Tomar ou Torres Novas, até à segunda metade de oitocentos não existem referências a fábricas na região. Destacam-se as pequenas unidades produtivas artesanais. Transpondo os vales de Góis até aos arrabaldes de Coimbra, pelas ribeiras do Sinhel, Mega e Pera se pisoavam os grosseiros tecidos de lã, no movimento rudimentar do engenho pré-industrial por ação da roda motriz.

 

Na etnografia dedicada aos «Pisões Portugueses» (1960), Ernesto Veiga de Oliveira recorda o labor dos “tecelões de Goes, já referido nas indagações relativas aos tecidos de lã de Fradesso da Silveira, que “faziam saragoças, buréis, picotilhos, mantas e também estamenhas, urdidas com estopa e tramada com lã preta, comprando lã em Trás-os-Montes e no Alentejo, e vendendo os seus produtos nos mercados de Aveiro, das Beiras, do Alentejo e Algarve, e até Espanha (…)”. 

António Santos Pereira, na obra «A Indústria Têxtil Portuguesa» (2017) também faz referência aos lanifícios de Góisonde as cerca de trezentas arrobas de produção local de lã eram transformadas em cobertores, panos de saragoça e estamenhas e meias, através da utilização de pisões locais, particularmente na freguesia de Alvares”.

 

 

 

Os pisões

«O pisão artesanal (…) é um engenho tosco (…) geralmente todo em madeira rudemente trabalhada, cujo princípio mecânico é muito simples: ele consta de dois maços ou mascotos articulados numa armação que, pela ação de um dispositivo apropriado, batem o tecido que se encontra numa caixa aberta, situada à frente deles (onde se deita a água ou outros líquidos próprios para a lavagem ou o apisionamento), e (…) acionado por uma roda motriz.»

«Na fase artesanal da indústria de lanifícios, os tecidos caseiros, feitos com fios fiados na roca e tecido em teares manuais, apresentam, à saída do tear, uma contextura frouxa, rala e pouco firme (…), [que] se desfia com facilidade; o pano chama-se então “cherga” ou “encherga”, e requer uma operação especial de acabamento: ele deve ser “enfortido” ou “pisoado”, isto é, batido fortemente em molhado e durante bastante tempo, de modo a apertar a trama e até a teia (…) que o transforma numa pasta feltrosa, homogénea, espessa e forte; tal é a função dos pisões, onde além disso, porém, como regra, os tecidos são lavados e desengordurados da sujidade e restos da “suarda” natural da lã, ou do azeite e demais produtos com que a preparam antes da fiação (…)» – Ernesto Veiga de Oliveira, «Pisões Portugueses» (1960).

 

A Roda Hidráulica:

A força motriz da industrialização

 

Atividades morosas que requeriam abundante mão-de-obra de cardadores e fiandeiras, é através da mecanização da cardagem e da fiação das lãs que se dá, pelo movimento gracioso da roda hidráulica, o arranque da industrialização dos lanifícios na Ribeira de Pera.

Força motriz das novas engrenagens industriais, “às correntes d´água artificialmente applicadas como potenciais actuantes e moventes pode-se dar-lhe o nome expressivo de ulha branca, em comparação com o carvão de pedra, quando aplicada para os mesmos effeitos”– assim era a espuma da água, caindo nos açudes e correndo na levada, descrito na edição de agosto de 1902 do jornal «O Figueiroense».

São avultados os investimentos na construção dos edifícios, nalguns casos de difícil acesso no encaixe escarpado da ribeira, e na compra da maquinaria importada da França ou Bélgica, feita transportar, desde o ramal ferroviário da Lousã, por rudimentares caminhos na demorada e perigosa travessia da serra, que requeriam os cabedais e o esforço empreendedor de homens visionários.

 

 

Em 1856, José Antão e Manuel Henriques dos Santos, naturais da Gestosa, iniciam a construção da primeira fábrica de lanifícios na Abelheira, que começará a laborar no início da década de 60. Por Domingos Correia de Carvalho e sócios é fundada a fábrica da Retorta em 1864, seguindo-se outras.


Na edição de 13 de dezembro de 1864, o «Diário de Lisboa: Folha Official do Governo Portuguez», dá notícia do início de laboração:

 

«Na margem direita da Ribeira de Pera, junto ao logar de Castanheira, no sitio da Retorta, foi construída uma fabrica de lanifícios que começou a trabalhar no dia 11 de julho ultimo (…).

A Ribeira de Pera, caudalosa no inverno, mesmo no verão leva, na maior parte do seu curso, agua sufficiente para dar movimento, e pena é que n’aquella freguezia não haja sufficientes recursos para a construção de muitas fabricas, pois que vemos perdida uma corrente de agua que se fosse aproveitada em todos os pontos, tornaria aquella terra florescente, e poderia assimilar-se em commercio e industria com a Covilhã e Gouveia Diário de Lisboa, 1864

 

Em 1902, o jornal «O Figueiroense» lança uma série de artigos dedicados à indústria de lanifícios de Castanheira de Pera, no périplo pelas fábricas das Sarnadas, Bolo, Várzea, Safrujo, Pereiros, Esconhais, Retorta, Foz, Abelheira e Rapos. Da autoria de M. L. Bruno é impressa em Figueiró dos Vinhos e posta a circular uma coleção de bilhetes-postais ilustrados com fotografias das principais fábricas.

 

 

A luz elétrica

Por meio da instalação de uma turbina elétrica no açude do Pisão Novo, propriedade de Manuel Diniz Henriques, a luz elétrica ilumina as ruas da vila em finais de 1912.

Antes, no açude do Moinho da Luz, já havia sido construída a primeira central elétrica para fornecimento da fábrica do Rapos. Fundada em 1874 por António Alves Bebiano, “sob a administração do sr. Dr. Baeta Neves foi beneficiada com um lavadoiro, moinho de fazer farinha e deposito para as lãs dos freguezes, constando-nos que pretende melhoral-a com illuminação a luz electrica” – reporta «O Figueiroense» em 1902.

A 10 de maio de 1914, dando notícia do Cortejo Cívico realizado nas ruas da vila, que proclamava a emancipação concelhia, saía a primeira edição do jornal         «O Ribeira de Pera», financiado pela “Central Hydro-Electrica”.

 

 

O terceiro centro industrial

 


Pertença de António Alves Bebiano, a magnífica fábrica dos Esconhais começou a ser construída em 1866, concluindo-se a instalação da moderna tecelagem mecânica em 1879. À época do Inquérito Industrial de 1881, a terceira maior fábrica de lanifícios do país, com capitais fixos de 180.000$00 réis, servia-se dos motores de “duas rodas hydraulicas, com a força de 40 cavalos, duas turbinas com força de 32 cavalos, e 4 vapores com a força de 150 cavalos, dois d’estes vapores com a força de 50 cavalos substituem aquelles motores na estação do verão e um vapor da força de 100 cavalos trabalha diariamente”.

Nela laboravam 140 homens, 124 mulheres e 52 crianças, no total de 316 operários. Por esta altura, nos cálculos de António Alves Bebiano, que nesse ano recebera de D. Luís I o título de Visconde, as fábricas da Ribeira de Pera empregariam cerca de 1000 operários. A dimensão do empreendimento industrial impressionava. Em 1875 a fábrica dos Esconhais é descrita no apontamento geográfico dedicado a ribeira de “Pêra”, no Diccionário de «Portugal Antigo e Moderno» de Augusto Pinho Leal, como sendo “uma das melhores do género” do país. 

 

Pêra – Ribeiro, Extremadura, comarca de Figueiró dos Vinhos, concelho de Pedrogam Grande. N’esta ribeira, em território da freguesia da Castanheira (…) está a magnifica fábrica de lanifícios do sr. António Alves Bebiano, uma das melhores do seu género em Portugal. Está situada esta fábrica na margem direita do rio denominado Ribeira de Pera; tem boas águas, magnífico local, muito pitoresco e excellentes campos de milho.

A primeira casa é de um só andar e tem o comprimento de sessenta e tantos metros, e largura proporcionada. Ha aqui duas rodas hydraulicas, construídas no Porto, e de força de 35 a 40 cavalos aproximadamente, e applicada a muitas e differentes machinas de cardar e fiar, perchas, pisões cylindricos, lavadeiras, tesouras, escova, aveludeira, encarruladeira, torcedor, etc. tudo pelo systema mais moderno e aperfeiçoado, assim como um sortido de cardar, produzindo 100 mechas, e uma fiação fixa, cujo trabalho é muito apreciável.

Alem dos motores hydraulicos, tem uma bonita machina franceza, a vapor, da força de 25 cavallos, para suprir no verão a falta d’água.

Em setembro de 1874, montou-se uma rambulla mecânica, para enchugo dos pannos, no inverno, dirigindo o trabalho o mesmo engenheiro francez que montou a machina a vapor.

Fronteira à primeira casa das machinas descriptas, ha uma outra de egual comprimento, que serve de casa de habitação, armazéns de lãs, escriptorio, prensas e serralharia, com um grande e espaçoso terreiro no centro, e próximo uma boa eira para enchugo das lãs.

Em uma outra casa, superior a estas, construída ha pouco, ha uma roda hydraulica, feita em Lisboa, da força de 15 a 20 cavallos, com a vantagem de que a agua que d’ella sae, vae tocar as outras que lhe seguem: esta roda serve de motor aos teares mecanicos, cuja regularidade e trabalho é muito perfeito.

Para supprir no verão a falta d’agua, fez o sr. Bebiano acquisição d’uma locomovel, da força de 12 cavallos.” – Augusto Pinho Leal, «Portugal Antigo e Moderno»

 

 

 

Na Exposição Universal de Filadélfia de 1876, os panos pretos dos Esconhais são premiados pela qualidade e preço, ao lado de outros prestigiados fabricantes portugueses de lanifícios:

- Fábrica de Lanifícios de Padronelo, Amarante – casimiras, sobretudos e xailes;

- Campos Melos & Companhia, Covilhã – casimiras;

- Bernardo Daupiás & Companhia, Lisboa – casimiras e xailes;

- Fábrica Constant Burnay, Lisboa – casimiras, flanelas e cobertores;

- Fábrica do Campo Grande, Lisboa – roupa preta e xailes;

- António Alves Bebiano, Pedrógão Grande – roupa preta;

- Fábrica de Lanifícios de Portalegre – casimiras;

- José Maria Casqueiro, Crato – lã lavada;

- Eduardo Augusto Pereira, Meixomil-Porto – lã.

 

Por volta do Inquérito Industrial de 1890, trabalhavam nos Esconhais 435 operários (João Alves Bebiano & Cia.). Nas contas do Visconde, as fábricas da Ribeira de Pera empregariam cerca de 1300 trabalhadores, afirmando-se como principal centro industrial do distrito de Leiria e o terceiro nacional do setor dos lanifícios.

 

«Castanheira de Pera é a primeira terra industrial do Districto de Leiria, é a cabeça de freguezia do Concelho de Pedrogam Grande, e está situada na Margem Direita da Ribeira de Pera; esta Ribeira é o principal motor de quatorze fabricas que se acham aqui installadas, havendo ainda 7 machinas a vapor. Todas estas fabricas são de lanificios, e n’ellas se fabricam as fazendas a que a industria Portugueza tem attingido. Empregam-se nas referidas fabricas 1300 operários e tem um movimento de salarios semanaes de 2.000.000 de reis, e a sua exportação é de 500.000.000.»

António Alves Bebiano, 10 de julho de 1890

Presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande

 

Porém, o progresso não corre linear no tempo, sem sobressaltos.

A bancarrota portuguesa de 1892 e a crise económica e financeira da década de 90; as dificuldades na importação de matérias-primas; os custos com combustíveis para alimentar os vapores e os motores de gás pobre, sobretudo no estio da pouca água na ribeira; as fracas acessibilidades; os acidentes laborais e os incêndios nas fábricas… eram os principais entraves ao desenvolvimento e à competitividade da indústria. Isto, sem esquecer a importância da pequena agricultura familiar na compensação dos baixos salários, comparativamente aos rendimentos dos operários noutros centros de lanifícios de Lisboa, Porto ou Covilhã.

Na viragem do século, o colosso industrial do Visconde havia soçobrado, a Foz estava parada, a Abelheira de Baixo foi devastada por um incêndio e as sociedades do Bolo e da Retorta atravessavam dificuldades…

Pela tenacidade e força do trabalho das suas gentes, o pequeno vilarejo perdido nas serranias ascende à categoria de sede de concelho em 1914. Das cercas de quatro mil almas nas contagens de 1864, a população das freguesias de Castanheira de Pera e Coentral ultrapassava os 6500 habitantes por altura da emancipação municipal

«A Ribeira de Pera é um dos principais centros industriais de Portugal. Com as suas catorze fábricas de lanifícios de motor hidráulico e a vapor com mais três de artefactos de malha, e uma sapolina vegetal cujos produtos têm sido premiados em bastantes exposições universais e internacionais, além da de energia elétrica, importa e exporta anualmente centenas de milhares de quilos de matéria prima ou manufaturada.»  

Eduardo da Silva Correia, 04 de Julho de 1914 

1º Presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pera

 

Até meados do século passado, o movimento das cardações e das fiações mecânicas das fábricas coexistiram com as tramas e urdiduras das centenas de oficinas de tecelagem manual, que se dedicavam ao fabrico de buréis, saragoças, surrobecos, mantas e xailes. Tradicionalmente, os negociantes de tecidos mandavam cardar e fiar as lãs nas fábricas, enquanto a tecelagem se mantinha dispersa pelas muitas fabriquetas e unidades de produção familiar

«Aques larfamos laínte!»

Da ancestralidade dos fabricantes e negociantes de tecidos nasceu, em data incerta, o laínte da Casconha.

No fomento dos laços de solidariedade e de identificação socioprofissional, os latiqueiros (falantes de laínte) faziam uso da gíria deste socioleto ou linguagem paralela, transmitida secretamente entre iniciados, como forma de se protegerem no alerta codificado diante dos perigos nas longas viagens, carregando nas carroças as fazendas e outros artigos do seu sustento e escondidos no alforge os proventos dos negócios. Não percebido no regateio das feiras e mercados, tanto por compradores como por outros vendedores concorrentes, o domínio da linguagem codificada dava aos latiqueiros vantagens na concertação dos preços e na valoração dos seus produtos.

Se a fábrica do Visconde dominava todas as operações dos lanifícios – desde a chegada das lãs ao lavadouro até ao tingimento e ultimação dos tecidos, tendo sido a primeira a introduzir a tecelagem mecânica – a verticalização do processo produtivo exigia maiores recursos energéticos. Primeiramente, através das caldeiras a vapor, da combustão de gás pobre e dos primeiros motores estacionários a diesel, em complemento à roda motriz, seguido do reaproveitamento dos açudes pela instalação de turbinas hidroelétricas, tipo Francis 30HP, produzidas nas fundições de Fradellos, no Porto.  

 


Nos anos 30, o advento da eletricidade, através da regularidade do abastecimento de energia fornecida a partir da central da Ermida (Lousã), Padilha, Rebelo & C.ª (Lousã) –  sucedida pela Companhia Elétrica das Beiras (CEB) – em complemento ao Pisão Novo e às pequenas centrais termoelétricas e hidroelétricas instaladas nas fábricas, conduzirá a uma maior concentração da capacidade produtiva, favorável a uma nova fase de expansão fabril na mecanização das tecelagens. Limitativas da livre concorrência, no que se refere ao estabelecimento de novas unidades industriais e da qualidade e quantidade dos seus produtos, as pautas do condicionamento industrial do Estado Novo induzem a um esforço de modernização contraposto ao abate de teares manuais, mantendo-se o volume global de produção nacional tabelado para cada região.

Na organização corporativa do Estado Novo, Castanheira de Pera é sede de um dos cinco Grémio dos Industriais de Lanifícios, distribuídos pelas seguintes regiões: Covilhã (Castelo Branco), Gouveia (Guarda), Castanheira de Pera (Leiria), Lisboa e Norte. E, sede do Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria de Lanifícios para os distritos de Leiria e Coimbra.

 

 

 

 

 

 

 

No relatório de 1940 do Grémio de Lanifícios constam 81 firmas distribuídas pelos concelhos de Castanheira de Pera (42), Pedrógão Grande (2), Figueiró dos Vinhos (4), Ansião (6) e Porto de Mós (27).

No que se refere ao nosso concelho, existiam 8 “fábricas completas”, 3 “fábricas incompletas” (sem tecelagem), 15 oficinas de “tecelagem de artigos considerados regionais” (teares mecânicos), 4 oficinas de “tecelagem de artigos regionais” (teares de madeira), 1 tinturaria e 11 unidades de fabricação 

 

 

 

 

Em 1964, por ocasião das  altura das Comemorações Cinquentenárias do Concelho de Castanheira de Pera, contavam-se 29 firmas na “lista das fábricas do concelho”:

 Albano Antunes Morgado, Lda. (Sarzedas de São Pedro); Albano Simões Carril (Sarzedas de São Pedro); Alfredo Correia (Troviscal); Alfredo dos Santos (Souto do Vale); António Lopes Ladeira (Coentral Grande); Augusto Carvalho (Coentral Grande); Barros, Antunes &C.a (Safrujo); Correia, Tomaz & Morgado, Lda. (Pisão do Vermelho); Diamantino Carvalho (Pera); Domingos Correia de Carvalho, Sucrs., Lda. (Esconhais); Fábrica Ceppas, Lda. (Esconhais); Fernandes, Antunes & C.ª, Lda. (Retorta); Joaquim Ferreira (Pera); José Alves Bebiano, Sucrs., Lda. (Castanheira de Pera); José Antunes (Sarnadas); José Duarte Prior (Sarzedas de São Pedro); José Nunes (Souto do Vale); José Tomaz Henriques, Sucrs., Lda. (Várzea); Manuel Alves Barata (Coentral Grande); Manuel Alves Barata Júnior (Coentral Grande); Manuel Fernandes de Carvalho, Sucrs. Lda, (Abelheira); Manuel Francisco (Bolo); Marcolino Alves Tomaz (Troviscal); Pompeu Rodrigues Costa (Castanheira de Pera); Sociedade Fabril de Tecidos, Lda. (Souto Escuro); Sociedade de Lanifícios da Foz, Lda. (Foz); Sociedade Industrial do Bolo, Lda. (Bolo); Tomaz, Costa & Irmão, Lda. (Pereiros); V.ª de João Rodrigues Júnior (Troviscal).

   

 

 

 

 

 

Fundação do Concelho

Castanheira de Pera pertenceu à freguesia de Santa Maria de Pedrógão. Em 1502, foi fundada a freguesia de Castanheira de Pera. Mais tarde, em 1691, a freguesia do Coentral.
De 1895 a 1899, Castanheira e Coentral pertenceram ao concelho de Figueiró dos Vinhos, quand4 de Julho de 1914 - Paços do Concelho [clique para ampliar]o o concelho de Pedrógão Grande foi extinto. Em 1899, um decreto restaurou o concelho de Pedrógão e Castanheira e Coentral voltaram a pertencer a este concelho.
A importância social e económica de Castanheira, decorrente do desenvolvimento da indústria de lanifícios, impunha-se ao concelho que, radicado em Pedrógão, era acusado de "administração desligada dos interesses das povoações do nordeste".
Castanheira pretendia, assim, desanexar-se de Pedrógão. Porém, as lutas políticas e as rivalidades eram muitas.
Numa terrível campanha eleitoral, em 1913, a lista da Castanheira conseguiu a vitória para a Câmara de Pedrógão, por escassos três votos.
Conquistada a Câmara, estavam abertas as portas para a autonomia municipal.


Foi elaborado o projecto de lei n.º 47-A, da autoria de Victorino Godinho, que justificava a criação d4 de Julho de 1914 - Festa de inauguração do Concelho [clique para ampliar]o concelho de Castanheira de Pera: "Castanheira de Pera é uma das mais florescentes povoações do país (…) atestam-no bem a pujança industrial e comercial, o número relativamente elevado dos seus habitantes (5.684) e as suas contribuições para a Fazenda Nacional e para o município. (…)
Ao norte da Castanheira existe outra freguesia do concelho de Pedrógão, Coentral (839) habitantes, que com aquela se encontra em fáceis comunicações e que naturalmente deverá fazer parte de novo concelho, que assim ficará com 6523 habitantes (…)".
A lei n.º 203, que aprovava a criação do concelho, foi publicada no Diário do Governo, I ª série, n.º 99, de 17 de Junho de 1914. Em 4 de Julho de 1914, é fundado o concelho de Castanheira de Pera.
Um dos períodos mais complicados, mas também dos mais pitorescos do concelho de Castanheira de Pera foi o que decorreu de 1923 a 1926 - período em que houve dois executivos camarários antagónicos que se auto-consideravam legítimos e que, em nome da lei, cobravam impostos e aplicavam multas.

 

CORONEL VITORINO GODINHO

Vitorino Henriques Godinho, deputado em 1914 por este círculo, foi autor e defensor do projeto de lei de criação do concelho de Castanheira de Pera cujo texto é o seguinte:

"

Projecto de lei n.º 47 - A

 

Artigo 1º. São desanexadas do concelho de Pedrogão Grande as freguesias de castanheira de Pera e Coentral, para constituírem o concelho autónomo de Castanheira de Pera, com sede nesta povoação.

Artigo 2º. O governo, pelo Ministro do Interior, fixará o dia para a eleição nos dois concelhos de Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, das respectivas câmaras municipais e procuradores à junta geral, nos termos da lei eleitoral, perdendo os seus lugares nos cargos administrativos os cidadãos actualmente eleitos.

Artigo 3º. Fica revogada a legislação em contrário.

 

            E, Finalmente, a lei

 

Lei n.º 203:

Em nome da Nação, o Congresso da República decreta, e eu promulgo a lei seguinte:

Artigo 1.º - São desanexadas do concelho de Pedrogão Grande as freguesias de castanheira de Pera e Coentral, para constituírem o concelho autónomo de Castanheira de Pera, com sede nesta povoação.

Artigo 2.º - A cargo deste concelho ficam os encargos que proporcionalmente lhe pertençam naqueles que ao presente impedem sobre o concelho donde é desanexado.

Artigo 3.º - O Governo, pelo Ministro do Interior, fixará o dia para a eleição nos dois concelhos de Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, das respectivas câmaras municipais e procuradores à junta geral, nos termos da lei eleitoral, perdendo os seus lugares nos cargos administrativos os cidadãos actualmente eleitos.

Artigo 4.º - Fica revogada a legislação em contrário

O Ministro do Interior a faça imprimir, publicar e correr.

Dada nos Paços do Governo da República, e publicada em 17 de Junho de 1914. Manuel de Arriaga - Bernardino Machado. "

 

 

Turismo

A economia do concelho assentou, durante décadas, na indústria de lanifícios. Contudo, a partir de 1980, a indústria começou a atravessar uma grave crise, que levou ao encerramento de várias fábricas.
A aposta num diferente sector - o turismo - apresentou-se como uma alternativa viável, uma vez que o concelho possui múltiplos recursos endógenos (ribeiras, serra, património, artesanato, gastronomia,...). Assim, nos últimos anos, verificou-se um grande investimento na potencialização/exploração desses mesmos recursos.
Aproveitando as águas da Ribeira de Pera, foi criada a Praia Fluvial das Rocas - um complexo de Praia das Rocas [clique para ampliar]lazer situado num lago com quase um quilómetro de extensão. A grande atracção desta praia é uma piscina de ondas artificiais que ocupa 2100 m2  (a maior do país).
Após a abertura deste complexo turístico, em 2005, mais de duzentas mil pessoas visitaram Castanheira de Pera.
Actualmente, a Praia das Rocas é o cartão de visita do concelho.
Tal como as indústrias de lanifícios, no século XIX, foram o motor de desenvolvimento do concelho; o turismo, no século XXI, é e será, certamente, o novo motor de desenvolvimento do concelho.

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BBB

História

«Aos quatro dias do mez de Julho do ano de mil e nove centos e quatorze, por dezoito horas, em Castanheira de Pera, numa sala de um edifício aqui situado oferecido gratuitamente por dez anos, para Paços Municipaes, pelo cidadão Dr. Manuel Diniz Henriques e por sua Excelentíssima Esposa D. Maria da Soledade Correia Teles Diniz, se reuniram para tomar posse a Comissão Instaladora do Concelho de Castanheira de Pera, nomeada por decreto publicado no “Diário do Governo”, composta pelos seguintes cidadão (…)»
Livro de Actas da Commissão Instaladora


Sessão Inaugural do Concelho de Castanheira de Pera
04 de Julho de 1914

Eduardo Pereira da Silva Correia,
Manuel Alves Bebiano,
Manuel Correia de Carvalho,
Joaquim Diniz,
José Sebastião da Gama,
José Simões, José Henriques Lopes,
Serafim Fernandes,
Manuel Filipe Tomás,
Manuel Fernandesnde Carvalho,
Joaquim Fernandes Dias,
Manuel Antunes Cepas,
João Domingues Rosa,
Augusto Alves Pereira,
João Fernandes Henriques e
Celestino Henriques da Assumpção.

Vitorino

Deputado em 1914 por este círculo, foi autor e defensor do Projecto de lei n.º 47 – A, precursor da Lei de criação do concelho de Castanheira de Pera, cujo texto é o seguinte:


Discurso do deputado Vitorino Godinho no Congresso da República


Senhores Deputados:
Castanheira de Pera é uma das mais florescentes povoações do paiz onde se poder observar de quanto é capaz o esforço e a iniciativa individuaes bem orientados. Com uma vida commercial bastante extensa e intensa tendo olhado com o maior cuidado o problema da instrucção com um hospital modelar e muitos outros melhoramentos locaes atestando o amor que os naturaes votam á sua terra, ella destaca se e torna se notavel principalmente sob o ponto de vista industrial, constituindo um dos mais importantes centros fabris de Portugal. De facto encontram se naquela pitoresca e interessante povoação quatorze fabricas de lanifícios que anualmente consomem 639 000 kilos de lã, tres fabricas de artefactos de malha e muitas outras instalações industriaes da menor importancia.
De longa data veem os habitantes de Castanheira de Pera reclamando com um acto de simples justiça a criação do seu concelho E que por razões lhes assiste, attestam no bem a pujança da sua vida commercial e industrial, o numero relativamente elevado dos seus habitantes 5 684 e as suas contribuições para a fazenda nacional e para o município e para se fazer uma ideia clara de que a criação do concelho de Castanheira de Pera não acarretaria embaraços financeiros á sua vida, basta examinar o quantum das suas contribuições, em alguns dos últimos anos.
(...) Ao norte de Castanheira existe outra freguezia do concelho de Pedrogam, Coentral (839 hab.) que com aquellas se encontra em faceis communicações e que naturalmente deverá fazer parte do novo concelho, que assim ficará com 6.523 habitantes


LEI nº 203, de 17 de Junho de 1914


Finalmente, é publicada no Diário do Governo nº 99 a Lei n º 203 através da qual é reconhecida a emancipação municipal:
Artigo 1º São desanexadas do concelho de Pedrogão Grande as freguesias de castanheira de Pera e Coentral, para constituírem o concelho autónomo de Castanheira de Pera, com sede nesta povoação.

Artigo 2º A cargo deste concelho ficam os encargos que proporcionalmente lhe pertençam naqueles que ao presente impedem sobre o concelho donde é desanexado.

Artigo 3º O Governo, pelo Ministro do Interior, fixará o dia para a eleição nos dois concelhos de Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, das respetivas câmaras municipais e procuradores à junta geral, nos termos da lei eleitoral, perdendo os seus lugares nos cargos administrativos os cidadãos atualmente eleitos.

Artigo 4º Fica revogada a legislação em contrário.

A 4 de Julho de 1914 tomou assento a Comissão Instaladora da Câmara Municipal Data assinalada no feriado municipal, que celebra a elevação de Castanheira de Pera a sede de concelho

Os Valores Fundacionais do Município


Discurso do 1º Presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pera Dr. Eduardo da Silva Correia

Eduardo Correia

Eduardo da Silva Correia

(1863-1927)

«Em seguida declarou que em nome da Comissão ia expor nas suas linhas fundamentaes o programa em que em seu entender devia integrar-se o novo organismo municipal.

A Câmara do novo Concelho empenhará os seus melhores esforços em fazer uma administração inspirada só nos altos interesses públicos e pautada pela mais severa e escrupulosa honestidade.

Não tentará enveredar pelos atalhos da politiquice, que degrada, nem da perseguição que desprestigia e avilta.

Procurará fortalecer o novo município, sem sectarismos nem intransigências, porque à sua sombra bem dita, como á sombra abençoada da árvore da Pátria poderão e deverão acolher-se todos os munícipes com a mesma liberdade e igualdade, qualquer que seja a sua crença política, a sua posição social, ou a sua confissão religiosa, porque o Concelho de Castanheira de Pera é de todos e para todos os que quizerem ordem e trabalho.

Os dinheiros públicos merecerão à Câmara do novo município todo o respeito e zelo, aplicando-se somente onde as necessidades publicas o reclamarem e justifiquem, mas sempre com equidade. Nunca da tesouraria da Câmara sairá um centavo para corromper consciências, nem locupletar afilhados, nem angariar falsas simpatias.

A instrução e educação popular era um assunto momentoso que merecia à Câmara a mais decidida e desvelada atenção (…)»

Livro de Actas da Commissão Instaladora