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Santo António da Neve

A CAPELA 

No antigo Cabeço do Pereiro ergue-se uma capela em honra de Santo António e porque foi mandada construir por Julião Pereira de Castro, neveiro-mor da casa Real, passou o local a designar-se por Santo António da Neve.

Esta capela tem a seguinte inscrição:

“Esta capela do glorioso Santo António de Lisboa a mandou fazer Julião Pereira de Castro reposteiro do nosso reino da câmara de sua Magestade e neveiro de sua Real casa em terra sua ano 1786.”

A licença do Bispo D. Miguel de Anunciação tem data de 6 de Maio de 1778 o que nos leva a concluir que demorou oito anos (1794) para ser benzida.

O Bispo concede licença porque Julião Pereira de Castro emprega muita gente na expedição da neve ocupando nessa tarefa os domingos e dias Santos e porque ir ouvir Missa à Igreja do Coentral era um incómodo considerável e não cumprir com os preceitos era gravíssimo prejuízo para as suas almas.

Esta capela andou nas mãos de particulares durante muitos anos até que em 1954 foi adquirida pela Câmara da Presidência do Dr. Marreca David e ficou pertença da Junta de Freguesia do Coentral.


OS POÇOS DA NEVE E O OFÍCIO DO NEVEIRO

Segundo um trabalho do Dr. Herlander Machado, os poços da neve são seguramente mais antigos do que a capela. Admite-se mesmo que sejam muito anteriores a Julião Pereira de Castro no ofício de que só há notícia devidamente documentada a partir de 1757 em alvará de D. José também assinado pelo Marquês de Pombal.

Dos sete poços construídos somente restam três que pela sua raridade foram considerados imóveis de interesse público.

Estes três poços de construção tosca são redondos no seu interior; todavia dois são octogonais no seu exterior e um é circular. Estão cobertos por abóbadas de pedra em forma de sino achatado e todo o conjunto foi edificado com a pedra negra da região. Cada poço tem uma só porta, estreita, virada para nascente, como para evitar que, quando o Sol é mais forte, possa entrar pela estreita porta e derreter a neve ali guardada.

Utilizando escadas de mão, feitas em tosca madeira, os homens desciam ao fundo destes poços – que então tinham uma profundidade superior a uma dezena de metros – e à medida que neles iam sendo despejadas as cestas com neve iam calcando esta com pesados maços de madeira que empunhavam vigorosamente, à maneira dos calceteiros de hoje.

Empedernida, isolada entre os paredões alisados pelo estuque, coberta depois de palha e fetos, a neve conservava-se nesses amplos reservatórios, até ao Verão – sem que uma réstia de Sol lhe pudesse chegar.

Quando chegava o tempo quente, a neve era cortada e seguia em grandes blocos para Lisboa. O transporte era feito, numa primeira etapa, em ronceiros carros de bois. Apenas três ou quatro desses grandes blocos podiam ser carregados nessas robustas carroças e eram cuidadosamente envolvidos em palha, em fetos, mesmo em serapilheiras ou, ainda, metidos em caixotes.

Mas, mesmo assim, diz o testemunho oral que muita neve se perdia pelo caminho percorrido através dos tortuosos carreiros da serra, quase penosamente.

Em Miranda do Corvo fazia-se a primeira muda dos animais e depois os carros partiam para Constância onde, da via terrestre, se passava para a via fluvial até ao Terreiro do Paço onde eram feitos saborosos gelados para o Rei e sua corte, tão saborosos que os Lisboetas os procuravam no Martinho da Arcada e outros cafés.

in Monografia do Concelho de Castanheira de Pera